terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Fidel Castro em ação

Uma nova etapa em Cuba


Aos 81 anos, Fidel Castro anunciou nesta terça-feira seu afastamento do poder em Cuba. A formação do novo governo será designada no próximo domingo pelo Parlamento. "Felizmente nosso processo conta com quadros da velha guarda, junto a outros que eram muito jovens quando começou a primeira etapa da Revolução", escreveu Fidel em texto publicado no Granma, jornal do Partido Comunista Cubano.

Desde julho de 2006, quando o líder foi acometido de uma doença, está à frente das figuras históricas da ilha o irmão, Raúl Castro, um general que o acompanhou em todas as batalhas desde a revolução de 1959. Com 76 anos, Raúl é o favorito para sucedê-lo formalmente no poder durante os próximos cinco anos.

Fidel deixa a cadeira de presidente de um país que, após 49 anos de revolução alcançou avanços incontestáveis, reconhecidos por organismos internacionais, como ONU e OMS, que atestam a incrível evolução de índices de saúde, educação, emprego e de redução da miséria. É claro que há problemas, mas boa parte deles resultado do inaceitável embargo econômico imposto pelos EUA – condenado, aliás, pela maioria esmagadora dos membros da ONU.

De acordo com pesquisa da Pnud, o índice de pobreza de Cuba entre os 102 países em desenvolvimento pesquisados era o sexto menor em 2004. Segundo a ONU, em 2003, a mortalidade infantil de Cuba era de 6,2 habitantes para cada 1000 (no Brasil, o índice era de 28,6 por 1000). Em 2006, Cuba obteve a 50ª colocação no ranking de IDH, situada entre os países de alto desenvolvimento humano (o Brasil é o 69º). A mesma pesquisa colocava o índice de analfabetismo cubano em 0,02% da população (no Brasil, a taxa era de 13,7%).

A CIA, central de inteligência americana, que organiza o "World Fact Book", um levantamento anual de dados sobre os países do mundo, estimava em 1,9% o desemprego em Cuba. No Brasil, segundo a mesma fonte, o índice era de 9,6% no ano passado. Ainda de acordo com o "World Fact Book", a expectativa de vida ao nascer na ilha era de 77,41 anos -contra uma esperança de 71,9 anos no Brasil.

Mescla de gerações - Apesar da presença de velhos companheiros revolucionários no governo, entre eles, José Ramón Machado Ventura, influente membro do PC, com 76 anos, o ministro do Interior, general Abelardo Colomé, 67 anos, que se uniu à guerrilha ainda adolescente, e o comandante Ramiro Valdés, ex-ministro do interior de 75 anos e agora à frente das Comunicações, Fidel recomendou que o novo governo inclua também dirigentes mais jovens. "Nosso processo dispõe da geração intermediária que aprendeu conosco os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução", acrescentou.

Essa geração está encabeçada pelo vice-presidente Carlos Lage, 55 anos, considerado o "arquiteto" das reformas econômicas da década de 1990 e um possível candidato a ocupar o atual posto de primeiro vice-presidente dos conselhos de Estado e de Ministros se Raúl for nomeado presidente. Outra figura emergente é o chanceler Felipe Pérez Roque, 41 anos, formado politicamente como secretário de Fidel durante quase uma década e hoje um articulado diplomata capaz de defender o sistema na Assembléia Geral das Nações Unidas. No domingo, quando o Parlamento votar uma lista única de 31 candidatos a igual número de cargos no Conselho de Estado, os habitantes desta pequena ilha do Caribe estarão dando os primeiros passos de uma nova etapa histórica.