quinta-feira, 6 de março de 2008

Horizonte


O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa ---
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 5 de março de 2008

Todo apoio à luta da Via Campesina!

Multinacional age ilegalmente

A Stora Enso adquiriu as terras em nome da empresa Derflin, que é o braço da multinacional para produzir matérias-primas. Como a Derflin também é estrangeira não conseguiu legalizar as áreas. Por isso, a Stora Enso criou uma empresa laranja: a agropecuária Azenglever, de propriedade de dois brasileiros: João Fernando Borges e Otávio Pontes (diretor florestal e vice-presidente da Stora Enso para a América Latina, respectivamente). Eles são atualmente os maiores latifundiários do RS.

Cerca de 50 fazendas, totalizando mais de 45 mil hectares, já estão registradas em nome da Agropecuária Azenglever. Entre essas áreas, está a Tarumã, ocupada pelas mulheres camponesas. Há um inquérito na Polícia Federal responsável para investigar o crime, mas a empresa continua agindo livremente.

Via Campesina combate 'deserto verde'


Cerca de 900 mulheres da Via Campesina ocuparam nesta terça-feira a fazenda Tarumã, de 2.100 hectares, no município de Rosário do Sul, a 400 km de Porto Alegre. As mulheres realizaram o corte de eucaliptos e o plantio de árvores nativas em área que pertence à empresa sueco finlandesa Stora Enso.

A transnacional vem comprando dezenas de propriedades rurais no Estado, próximo da fronteira com Uruguai, embora a legislação brasileira (lei nº 6.634 de 1979; e o artigo 20, parágrafo 2 da Constituição Federal) proíba empresas estrangeiras de adquirir terras localizadas na faixa de 150 km da fronteira.

A meta da empresa é formar uma base florestal de mais de 100 mil hectares e implantar fábricas na região.

Em nota distribuída à imprensa, as mulheres declararam o seguinte: "Nossa ação é legítima. A Stora Enso é que é ilegal. Plantar esse deserto verde na faixa de fronteira é um crime contra a lei de nosso país, contra o bioma pampa e contra a soberania alimentar de nosso estado que está cada vez mais sem terra para produzir alimentos. Estamos arrancando o que é ruim e plantando o que é bom para o meio ambiente e para o povo gaúcho".

Mídia e liberdade, segundo Chomsky


O Le Monde Diplomatique Brasil entrevistou certa vez o lingüista e professor do MIT, Noam Chomsky, e lhe perguntou por que sempre que o jornalista é indagado se sofre pressões ou censura, a resposta é invariavelmente "não".
Ao que Chomsky respondeu:

"Quando os jornalistas são questionados, eles respondem de fato: "nenhuma pressão é feita sobre mim, escrevo o que quero". E isso é verdade. Apenas deveríamos acrescentar que, se eles assumirem posições contrárias à norma dominante, não escreveriam mais seus editoriais. Não se trata de uma regra absoluta, é claro. Eu mesmo sou publicado pela mídia norte-americana. Os Estados Unidos não são um país totalitário. Mas ninguém que não satisfaça exigências mínimas terá chance de chegar à posição de comentarista respeitável.
Esta é, aliás, uma das grandes diferenças entre o sistema de propaganda de um Estado totalitário e a maneira de agir das sociedades democráticas. Com certo exagero, nos países totalitários, o Estado decide a linha a ser seguidae todos devem se conformar. As sociedades democráticas funcionam de outra maneira: a linha jamais é anunciada como tal; ela é subliminar. Realizamos, de certa forma, uma 'lavagem cerebral em liberdade'.
Na grande mídia, mesmo os debates apaixonados se situam na esfera dos parâmetros implicitamente consentidos - o que mantém na marginalidade muitos pontos de vista contrários. O sistema de controle das sociedades democráticas é mais eficaz; ele insinua a linha dirigente como o ar que respiramos. Não percebemos e, por vezes, nos imaginamos no centro de um debate particularmente vigoroso. No fundo, é infinitamente mais teatral do que nos sistemas totalitários. (...)"

A resposta de Chomsky prossegue, mas me limito a reproduzir este trecho, que já é mais do que suficiente.

Coro grego nas redações


Mino Carta comenta sobre os jornalistas brasileiros: Algo que sobremaneira me intriga é porquê os jornalistas nativos chamam seus patrões de colegas. Adulação? Sabujismo? Medo de perder o emprego? Não sei, mas está claro que não se dão a respeito. O Brasil é o único país do mundo ao meu alcance onde tal situação ocorre. Existem até aqueles em que ao patrão é vedada por lei a carreira jornalística. Aqui os homens até ganham carteirinha do sindicato. E como se empenham, os jornalistas autênticos, a favor das idéias de quem lhe paga o salário... Ora direis: os pensamentos de uns e outros coincidem. À perfeição. Tim-tim por tim-tim. É jogo de equipe. Como nas famílias mafiosas.
O capo-di-tutti-i-capi ordena, os soldati e os picciotti executam. Claro que soldati e picciotti da mídia nativa não matam, ou, simplesmente, não quebram pernas de quem não paga o pizzo. Defendem, porém, os interesses da minoria contra aqueles do país. No mínimo, e de cara lavada. Quando não acusam sem prova, difamam, caluniam. Até onde chega este gênero de submissão? Até o fundo do poço. E, em alguns casos, a situação mereceria a intervenção do coro grego. Pois é difícil, se não impossível, entender como indivíduos de QI razoável e algumas leituras possam sujeitar-se a tanta curvatura, intelectual e moral.