quarta-feira, 16 de maio de 2007

'Elite não fez distribuição de riqueza' , disse Lula



A avaliação geral é positiva sobre a entrevista coletiva do presidente Lula, ontem, em Brasília. Abaixo, os principais pontos:


ABORTO

Eu tenho um comportamento: como cidadão, sou contra o aborto. Agora, como chefe de Estado, sou favorável a que o aborto seja tratado como uma questão de saúde pública, porque é preciso que o Estado dê atenção a pessoas que tiveram uma gravidez indesejada. Se o Congresso quiser fazer um debate, será bem-vindo. O papa defendeu um conceito da Igreja. Eu tenho a minha visão e ela continua inalterada. Sou contra o aborto.

TERCEIRO MANDATO

Na verdade, tenho dito o seguinte: eu não brinco com democracia. Fui contra a reeleição até o momento em que a lei perdurou, e fui obrigado a ser candidato à reeleição porque a situação política exigia. Quero dizer para vocês: sou contra e não serei candidato em 2010. Não é por nada não, é porque a Constituição não permite, e acho imprudente alguém apresentar qualquer mudança permitindo um terceiro mandato. Então está definido, meu filho. Por não brincar com a democracia, não serei, nem pensarei, nem cogitarei qualquer hipótese de terceiro mandato. Eu já era contra o segundo, imagine o terceiro.

CÂMBIO

A gente fica dizendo que o real está valorizado sem reconhecer que o dólar está se desvalorizando diante de quase todas as moedas do mundo. Nós não podemos resolver o problema do câmbio como alguns querem que a gente resolva: Ah, cria o câmbio-automóvel, o câmbio-parafuso, não dá. O câmbio vai continuar sendo flutuante e vai se ajustar. Nós poderemos criar políticas para estudar a desoneração de alguns setores, mas não tem como o governo, num passe de mágica, dizer: olha, para esse setor sobreviver, o dólar vai ser tanto.

IBAMA E PAC

Por que o Ibama está em greve? Houve redução do salário do Ibama? Alguém foi mandado embora? Alguém foi trocado de função? Não. Apenas porque a ministra deu um sinal de que era preciso que houvesse uma modernização do Ibama. Propôs fazer mudanças, separar o que é licenciamento daquilo que é preservação dos parques. Na entrevista do PAC, a ministra Dilma falou da hidrelétrica de Estreito, que tinha um problema. Já não tem mais problema, já foi resolvido o problema da hidrelétrica de Estreito, ela vai ser feita e logo, logo estará havendo licitação para que os empresários comecem a obra. A mesma coisa, a hidrelétrica do Rio Madeira. O que nós queremos na Santo Antônio e na Jirau? São duas hidrelétricas importantes para o País, vão custar acima de 9 bilhões de reais e gerar acima de 3 mil e 500 Megawats, cada uma delas. O que eu não posso é deixar o governo em 2010 e o meu sucessor pegar um apagão.

DRU E CPMF

O ministro da Fazenda e o do Planejamento têm trabalhado as reivindicações dos governadores, obviamente que algumas serão atendidas. Eu estou pensando que, para o próximo mês, eu devo convocar os governadores para uma reunião. Na próxima semana, o ministro Guido Mantega vai me apresentar uma primeira avaliação das coisas com que ele acha que é possível concordar. Os governadores estão fazendo aquilo que é papel deles. Eles querem levar mais dinheiro para os seus Estados. Todo mundo sabe, em sã consciência, que o Estado brasileiro não pode viver sem a CPMF e sem a DRU. Porque se alguém tirar dinheiro da CPMF, nós vamos ter que tirar dinheiro do Orçamento. Última coisa: não existe votação por nomeação de cargo. Quem quiser votar contra, atrás de nomeação de cargo, pode votar contra. O que eu estou propondo aos partidos políticos e, graças a Deus, estamos construindo uma harmonia, é construir uma coalizão neste País, que é diferente de distribuição de cargos. Essa é a coisa interessante de quem não está pensando em nova eleição. Estou mais leve, eu posso te dizer que tiraram das minhas costas uns 30 quilos.

CANDIDATOS PARA 2010

Nenhum partido privou o PT de algum espaço. O PT tem o privilégio de ter o cargo mais importante da República, que é o de presidente. Eu quero terminar o meu mandato em 2010 na condição daquele que os candidatos chamem para ir para o palanque, porque é duro você terminar um mandato e ninguém te chamar para nada. A base vai ter um candidato e esse candidato, na minha opinião, deve ser tirado de um consenso da base. Posso dizer a vocês que eu quero fazer o sucessor.

IMPERIALISMO

Historicamente esses países todos viram o Brasil como um país imperialista, é o maior país do continente, a maior economia. Nós temos que levar em conta a existência de algo que supere as nossas divergências do século 19, para que a gente possa construir as convergências do século 21. Até agora não temos problema com o gás da Bolívia. Durante muito tempo, todo discurso que eu fazia era de que o imperialismo americano era o responsável pela minha pobreza. De repente, descobri que o problema não é do imperialismo desse ou daquele, é do imperialismo da nossa elite, que durante séculos governou e não fez nenhuma política de distribuição de riqueza. O Chávez tem sido um parceiro inestimável do Brasil, sob todos os aspectos. O fato de alguém se posicionar contra o biocombustível é um problema de quem se posiciona contra. O Chávez é comprador de etanol do Brasil.

PT E PSDB

Eu não trabalho com a hipótese de voltar à Presidência da República. Acho que um ex-presidente da República precisa virar conselheiro dele mesmo, não pode ficar dando palpite. É importante lembrar que, em 1994, se não fosse o Plano Real, o PSDB teria indicado o vice na minha chapa. Depois veio o Plano Real, e aí o PSDB teve candidato e ganhou as eleições de mim. Eu mantenho relações muito boas com muita gente do PSDB. Eu só posso te dizer o seguinte: a base do governo terá candidato. Quem vai ser? Não sei. Agora, vamos ver qual é o comportamento do PSDB nisso tudo. De vez em quando, eu vejo o presidente Fernando Henrique Cardoso dizer que eu não o convidei. É importante lembrar que ele também só me convidou depois que eu fui derrotado em 1998. Se ele acha que eu errei em não convidá-lo, não será por falta de convite que a gente não vai conversar.

GREVES

Não queremos proibir que haja greve, pelo contrário. Primeiro, não temos um projeto ainda. Estamos pensando em mandar um projeto para o Congresso depois de discutirmos com as centrais sindicais, com os sindicatos de servidores públicos. O que não é possível é alguém fazer 90 dias de greve e receber os dias parados, porque aí deixa de ser greve e passa a ser férias. O que eu quero é apenas responsabilizar o direito de greve.

COALIZÃO

O presidente da República, no exercício do seu mandato, não governa com as forças com que gostaria de governar, ele governa com as forças que compõem as organizações políticas da sociedade. O fato de a pessoa ter sido contra o presidente da República em outro período, ela tinha que ser contra porque não fazia parte da coalizão. Agora, ela faz parte da coalizão e você vai ver essa pessoa, pelo Brasil afora, defendendo o governo e defendendo o presidente Lula. O que fizeram para trás, faz parte do passado. A outra coisa é a seguinte: muita gente vai engolir o que disse do governo, com muita tranqüilidade. Todo ser humano é passível de erro.

VIOLÊNCIA

Na questão da segurança pública, o governo federal não é o foco principal, nós somos a força auxiliar do sistema de segurança pública que é, majoritariamente, controlado pelos Estados. Eu sei que o problema da segurança envolve, sobretudo, uma parte da juventude brasileira com a qual nós estamos trabalhando. Nós criamos a Secretaria Nacional, o Conselho da Juventude, temos programas da juventude atendendo quase 900 mil jovens. E o ministro Tarso Genro vai, até o final do mês, me apresentar as diretrizes para um novo programa de segurança pública, que só pode dar resultado se for feito combinado com os governadores e, portanto, combinado com a nossa Secretaria de Segurança Nacional. E a questão da violência não está só ligada à questão da juventude. É uma questão de tempo você combater o crime organizado, estar melhor preparado, investir mais na inteligência.

DÍVIDAS DOS ESTADOS

Os governadores querem aumentar a sua capacidade de endividamento. Eu sou favorável. Nós temos uma lei que é anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece a regra que estamos impondo aos governadores hoje. E a Lei de Responsabilidade Fiscal tem uma flexibilidade maior. Ora, o nosso desafio é fazer esse ajuste sem permitir que, ao criar condições para que um prefeito ou um Estado tenha um pouco mais de capacidade de investimento, a gente volte a permitir a famosa “farra do boi”. Posso afirmar que essa irresponsabilidade não voltará, mas ao mesmo tempo eu tenho idéia de flexibilizar um pouco.

CRISE NO TRÁFEGO AÉREO

Não vamos confundir o acidente do avião da Gol com o Legacy como um problema dos aeroportos. Nós tivemos um acidente, por conta desse acidente tivemos acusações de vários lados e, depois o resultado foi que houve uma insatisfação nos setores de controladores, nos setores de manutenção, e começamos a ter problemas nos aeroportos. Fiz várias reuniões com o comandante da Aeronáutica, com o ministro da Defesa. Chegamos à conclusão de que tinha um problema de gestão. O que fiz? Chamei o comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Saito, e falei: “Brigadeiro, este é um problema seu, resolva com os controladores, não dá para ficar nessa discussão.” E até agora está mais ou menos tranqüilo. Se daqui a alguns dias tiver o resultado final, vocês serão os primeiros a saber o que aconteceu. E aí a justiça vai cuidar do resto.

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