domingo, 8 de julho de 2007

Tópicos do atraso I


Ilustração: Engenho de cana (Henry Koster)

A Restauração fortaleceu figuras como a do traficante de escravos, que assumiu a função de comissário para explorar fazendeiros.No lugar do empreendedor de obras, surgiu a figura do "afortunado dos corredores políticos", segundo Caldeira, que explica que "o empreendimento será filho do desprendimento a particulares dos ganhos do Fisco". Vale a pena ler esta citação de Raimundo Faoro, do livro de Caldeira:

"Formigavam nos ministérios, nos corredores da Câmara e do Senado, magotes de aventureiros, intermediários e empresários nominais, em busca das cobiçadas concessões, dos fornecimentos, das garantias de juro, das subvenções, para o lucro rápido e sem trabalho das transferências. As dificuldades se dissipam, ao aceno das participações e dos empregos. O segundo Banco do Brasil sofre, ao ser lançado, tenaz e misteriora oposição. O incorporador sente que a obstrução vinha dos candidatos aos cargos de diretor. Só a gratuidade resolve as oposições. A chamada elite agrária, forte e altiva nos seus latifúndios, some diante do ardente círculo dos negócios: ela está subordinada, pelos interesses da escravidão, 'ao monopólio de outros monopólios comerciais'. O patronato político não distribui somente empregos e cargos, ele enriquece e empobrece seus protegidos e adversários, num entendimento que o dinheiro projeta além dos partidos. Os puritanos enrouquecem denunciando escândalos (...) O Segundo Reinado será o paraíso dos comerciantes, entre os quais se incluem os intermediários honrados e os especuladores prontos para o bote à presa, em aliança com o Tesouro. (...) Os agricultores vergados ao solo, os industriais inovadores servem, sem querer, aos homens de imaginação forrada de golpes, hábeis no convívio com os políticos, astutos nas empreitadas."

Caldeira explica que esse período, considerado por ele o "auge do Império", só enfraqueceu com a Guerra do Paraguai e o enriquecimento dos fornecedores paulistas, o que abriu caminho à República. Foi então que, identificando as enormes ineficiências do sistema vigente, fez-se a pergunta: "era necessária a atividade política para controlar o crescimento econômico?".

A semelhança com os dias atuais é assustadora.

Nenhum comentário: